20110713

Gonçalo is speaking # 2

   Vivo uma vida bastante normal, dentro dos possíveis. Tenho dois pais, um irmão mais velho e frequento a faculdade, embora esteja de férias. Hoje liguei ao Bernardo para sair, à muito que precisava da companhia dele. Conhece-mo-nos à 8 anos e para mim é como se ele fosse um irmão, já que o meu nunca pára em casa. Eu conto-lhe tudo e mais que ninguém ele sabe da Carolina. Embora prefira manter-se a uma certa distância para não me baralhar mais, ele ajuda-me sempre em cada decisão que eu tome. É fundamental, tanto o Bernardo como a Carolina o são e felizmente estiveram presentes numa das fases mais complicadas que passei com o meu irmão. O estúpido, que não tem outro nome, passou metade da vida a deixar toda a gente louca e deixou-se enrolar de tal maneira que fora apanhado a conduzir completamente bêbado e drogado e como se isso ainda não chegasse, quando as autoridades revistaram o carro encontraram  a mala repleta de drogas ilegais. Isto tudo no dia de Natal, perfeito. Acabar a noite a telefonarem aos meus pais para irem ter à prisão, abri as prendas sozinho no meu quarto no dia a seguir e nunca mais lhe falei. Ultimamente tem passado tanto tempo fora de casa que dou por mim a desejar que um dia acabe por sair de vez.
   Estar com o Bernardo ajudou-me imenso. Ainda me lembro da última vez que nos divertimos juntos e que eu me sentia plenamente bem, mas já fora à muito tempo atrás. Ele diz que preciso de espairecer e, para ele não há outro remédio santo se não estar com raparigas. Sinceramente, acho que é mesmo isso que ando a precisar. E como felizmente nunca tive azar nesse assunto pode ser que as coisas mudem um bocado para os meus lados. Embora passe um bom bocado nada me vai resolver os meus problemas mas, é sempre bom poder esquecê-los por um certo tempo.
   Encontrava-me agora deitado na cama, a olhar para o tecto, a pensar em tudo o que já tinha vivido. Finalmente recebi a mensagem tanto esperada do Bernardo.
     *Às nove e meia passo aí*
   Escolhi a roupa que iria usar, uns calções de ganga escuros, uma t-shirt larga branca e umas sapatilhas vermelhas, não iria ter frio numa noite como esta de verão. Fui tomar um duche, vesti-me, perfumei-me e esperei que o Bernardo aparecesse. Entretanto liguei o meu pc, nada de novo como sempre, mas tinha uma mensagem da Carolina que dizia 'Não te esqueças de amanhã', mas não lhe respondi. O telemóvel começou a vibrar e no ecrã aparecia 'Bernardo', finalmente chegou. Avisei a minha mãe e abandonei a casa, mal entrei no carro dele fiquei contente, já não o via mesmo à muito tempo.
       G.:'Então? Pronto?'
       B.:'Sempre forte! Ahah'
   Passamos por um café primeiro onde nos encontramos com mais colegas nossos, encontrava-se razoavelmente cheio e algumas cervejas já se encontravam em cima da nossa mesa. Agradeci-me mentalmente por estar com pouca roupa, está um calor dos diabos. Como o previsto, mal acabamos de beber dirigi-mo-nos todos a uma discoteca, a New Wave. Mal conseguimos entrar andamos entre as pessoas com dificuldade até ao bar e pedimos a nossa primeira bebida, estava com um bom feeling sobre esta noite. Olhei para a pista de dança e conseguia ver toda a gente a divertir-se e a mover-se com o som da música, uns mais discretos, outros mais à vontade e com isto digo raparigas a esfregarem-se a tudo o que se mexia, os rapazes só aproveitavam a deixa. O normal. No início da noite reparei numa rapariga morena no outro lado do balcão do bar. A fraca e psicadélica luz da discoteca não fazia justiça à sua beleza, não conseguia dizer se tinha os olhos verdes, mas eram claros e, sem sombra de dúvidas, tinha um belo corpo. Cruzámos os olhares algumas vezes, ficava louco quando ela me olhava por entre aquelas pestanas maravilhosas, tinha que a ter. De qualquer das maneiras não ia ser difícil, nem eu esperava que fosse. Mal acabei com a bebida toquei no braço de Bernardo, dando-lhe o sinal que ia ter com ela, após esbarrar em algumas pessoas encontrei-a à minha frente e pus o meu melhor sorriso. Ela sorriu-me de volta e por momentos algo me assombrou a cabeça e o que tinha em mente. Uma imagem da Carolina não quis largar a minha cabeça. Senti um ligeiro toque no braço, o que me fez despertar da hipnose e vi que era a mão dela, não hesitei em agarrá-la e puxei-a para mim. Desloquei-me à pista e ela começou a dançar à minha frente freneticamente e aproveitei-me disso para agarrar-lhe as ancas. Já não ouvia mais a música, ouvia a voz da Carolina em todo o lado dizendo, repetitivamente, para não o fazer. Mas nem sequer pensei duas vezes, era só eu e aquela rapariga naquele momento, e que pedaço de rapariga... Quanto mais álcool fiz entrar no meu sistema menos pesava o sentimento de culpa nos meus ombros e naquela noite não ia conduzir. A morena encostou a cabeça dela ao meu pescoço e senti um sorriso a abrir-se, senti-me desconfortável e, se calhar, íntimo demais. Tirei-a do meu peito, não querendo saber o que ela iria pensar e pisquei-lhe o olho tentando amenizar a situação, resultou, óbvio. Passei a noite toda com ela e deixei os meus pensamentos de lado querendo apenas aproveitar para me divertir, era só isso que contava não era? Bebi tanto que não me lembro de tudo o que fiz com ela, lembro-me de estar encostado a uma parede com ela e de beijá-la, como se ela não quisesse, deixou-me percorrer-lhe o corpo todo com as mãos, típico... Quando dei por mim o Bernardo agarrou-me o braço para ir embora, nem sei se me despedi, para quê que interessa? Passei uma boa noite, uma fantástica noite aliás. Ele pôs o meu braço sob as suas costas, estava tão podre de bêbado que não conseguia caminhar sozinho, mal chegamos a casa deitou-me no sofá que tinha no seu quarto e aterrei, sem querer saber das consequências desta noite.



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