Gonçalo is speaking # 8

   Acordei sobressaltado, era um novo dia. Tinha sonhado novamente com ela, nestes últimos 5 dias tem sido sempre assim. Mandei-lhe mensagens mas ela não me respondia, liguei-lhe milhões de vezes mas ela não atendia. Já pensei seriamente em ir a casa dela, mas acho que é demasiado exagerado, tenho ficado à espera por algum sinal, mas sem sucesso. O meu estado de preocupação começou a ser substituído pelo de raiva novamente. Afinal de contas, ela não queria saber de mim assim tanto! Que porra! Porquê que me sentia tão enganado?! Nem sequer gostava dela! Levantei-me da cama e abri as persianas, mais um dia límpido e calorento. Precisava da companhia de alguém e o Bernardo está fora durante uns tempos devido a um torneio de andebol. Sinto-me demasiado estúpido para ficar em casa a lamentar esta situação toda e a fazer-me passar por otário, nunca outra rapariga me fez isto! E nunca pensei que a primeira fosse a Carolina! Mas também nenhuma outra me fez sentir assim... Merda. Encontrava-me só e não queria pensar mais nisto, ela nem valia a pena. No meio dos meus desvarios lembrei-me de alguém que realmente merecia umas quantas explicações, já não estava à imenso tempo com a Jéssica e tinha ignorado quase todas as mensagens que ela me enviava. Logo a seguir ao que aconteceu com a Carolina não havia melhor remédio do que estar com a Jéssica para a esquecer.
     *Hoje vou à praia, queres vir?*
   Não demorou muito para responder.
     *Claro que sim, a que horas?*
     *Vejo-te lá às dez, não te esqueças do bikini.*
     *Acredita que não me vou esquecer.*
   Ignorei-a nas mensagens anteriores e mal lhe mando mensagem já aceita que flerte com ela. Não é fácil? Vesti uns calções de praia coloridos, uma camisola sem mangas branca e umas vans verdes, pus o meu fato que uso para o surf na mochila, uma toalha de praia, uma garrafa de água, umas sandes para comer na hora de almoço e estava pronto. Felizmente hoje a minha mãe estava em casa então podia levar a carrinha, pus a prancha na mala, pus os meus óculos de sol e estava pronto para ir. Quando entrei no carro liguei o rádio, felizmente para mim estava a dar músicas mexidas, foi uma viagem fantástica até à praia.
   Quando lá cheguei a Jéssica ainda não estava lá, mandei-lhe mensagem a descrever o sítio da praia em que me encontrava, assim não tinha que esperar que ela chegasse para ir surfar. Vesti o meu fato e comecei a aquecer um pouco, mas estava ansioso demais, peguei na prancha e fiz-me ao mar.

   Oh meu deus, era mesmo disto que eu estava a precisar, relaxo tanto nas ondas, que sensação incrível! Quem me dera que a vida fosse feita disto, estava feliz a toda a hora. Já estava à imenso tempo no mar e comecei a ter fome, nem sequer reparei que a Jéssica já tinha chegado, estava a divertir-me demais para sequer me lembrar dela. Cheguei ao areal e peguei na minha prancha, sacudi o cabelo e abri o fato ficando com o tronco à mostra. Caminhei até às minhas coisas e ao lado estava a Jéssica deitada de costas em bikini numa toalha de praia, ela era realmente um pedaço de rapariga. Lá está, mais nada que isso. Mordi-lhe a barriga e ela contorceu-se por baixo de mim, apanhada de surpresa, abriu um olho e pôs a mão à frente da cara para tapar o sol.
     G.:'Bom dia, gatinha.'
     J.:'Bom dia, gostoso.'
   Sorri-lhe e ela retribuiu, pisquei-lhe o olho e fui preparar algo para comer, senti que a alegria dela fugiu quando saí de cima dela. Agarrei a garrafa de água fresca e comecei a dar goles grandes sem espaço entre eles, estava tanto calor. Peguei numa das sandes e devorei-a em escassos minutos, até pegar noutra. 
     G.:'Tens fome?'
     J.:'Nem por isso, mas trouxe comida, obrigada na mesma.'
   Tal como a primeira, a segunda sande também foi rapidamente. Aproveitei para pegar na minha toalha de praia e estendi-a ao lado da de Jéssica e tirei o resto do fato de surf, ficando apenas em calções de praia. Realmente estava a ser um belo dia e a presença de Jéssica não influenciava nisso, mais valia ter vindo sozinho.
     J.:'Estava a ver que nunca mais estávamos juntos de novo.'
   O tom de Jéssica pedia uma explicação para o sucedido, por favor, agora não.
     G.:'Pois foi, andei tão ocupado.'
     J.:'Parecia que nem querias saber de mim.'
   Opa, que merda! Já estava a miúda a tirar-me a paz de espírito! Respirei fundo e rolei para o lado dela apoiando a cabeça numa mão e com a outra tracei uma linha pelo abdómen dela com o meu dedo indicador, podia ser que se calasse.
     G.:'Sabes que isso não acontece.'
   Usei o meu sorriso mais falso, ela estava a fazer-se de difícil coisa que eu sabia mais que bem que ela não era. Sem eu dar conta, cruzou os braços atrás do meu pescoço e puxou-me para ela. Notava-se que queria entrar nos joguinhos do beija/não beija, ficámos olhos nos olhos e eu simplesmente esperei que ela tomasse a iniciativa, já me estava a aborrecer demasiado. Então ela beijou-me agarrando-me o cabelo e eu aprofundei o beijo agarrando-lhe no rabo, só daquela maneira é que ela me punha louco, não é um bom sinal. Eu não sei o que me ia na cabeça para sequer estar com ela, é verdade que ela podia pôr-me com tesão em alguns segundos, mas era mesmo isso que eu queria? Eu só pensava na Carolina, e ela não tinha que fazer isso para eu a querer... Afinal o que é que eu sentia? A maluca da Jéssica quebrou os meus pensamentos quando passou a mão dela por cima dos meus calções, afastei-a rapidamente, o que é que ela pensava que estava a fazer? De certeza que não era de mim que ia ter o que pretendia e antes que tivesse que lhe explicar qualquer coisa o meu telemóvel tocou. Ao menos isso! Afastei-me não querendo saber se ela estava chateada ou não e atendi longe dela. O meu coração acelerou quando me apercebi que era a Carolina, ela chorava.
     C.:'Gonçalo, preciso de ti!' - conseguiu dizer entre soluços.