20140204

Gonçalo is speaking # 22

[Carolina]
   Despedi-me do meu tio dando-lhe o abraço mais apertado que consegui. Tinha a sensação que o esmagava mas ele apenas me retribuiu sem se queixar.
       C.: Assim vou perder a camioneta. - sorri.
       T.C.: Espero ver-te amanhã.
       C.: Não tenho falhado um dia.
       T.C.: Mas devias, estás sempre aqui metida.
   Suspirei e fiz-lhe uma careta, finalmente dei-lhe um beijo rápido na bochecha e chamei a minha mãe.
       C.: Mãe, já vou!
       M.C.: Cuidado! Quando chegares liga-me!
   A minha mãe ia ficar mais uma noite, apesar da ideia de estar sozinha em casa me aterrorizar um pouco, não queria dar parte fraca, aliás, sinto-me mais à vontade e tenho tudo o que preciso. Talvez consiga fazer com que alguém fale comigo durante a noite, até estar a morrer de sono. Mas o que queria mesmo era que o Gonçalo pudesse passar a noite comigo. Que pudesse dormir no quente do seu corpo. Oh ceús... Sinto tanto a falta dele, sinto-me tão só esta noite.
   A viagem de camioneta foi relativamente curta e o barulho que a campainha do stop fez quando alguém a premiu afastou-me dos meus pensamentos e fez-me perceber que era a minha paragem. Levantei-me depressa antes que as portas voltassem a fechar. Estava fresco dentro da camioneta devido ao ar condicionado, mas mal passei a porta senti o calor que se instalava no ar daquela noite de verão. Haviam ainda pessoas na rua a passear ou mesmo em cafés, o que me fez sentir mais segura. Quando alcancei a porta de casa já segurava as chaves na mão e com um movimento rápido rodei-as na fechadura e esta abriu-se. Liguei imediatamente as luzes e a casa não mostrava nada de novo, estava tudo na mesma, em pantanas. Hunf... Pousei as chaves no chaveiro e subi as escadas para o meu quarto, não tirei nada do sítio desde que o Gonçalo veio cá e o arrumou. Tirei as sapatilhas, fui buscar um pijama ao roupeiro e umas cuecas a uma gaveta mais pequena que lá tinha. Finalmente dirigi-me à casa de banho e pus a água do chuveiro a correr, nunca pensei que despir-me fosse uma tarefa tão difícil, estava realmente cansada. O barulho da água a correr ecoava em toda a casa, mal ficou morna entrei para dentro da banheira e como era bom sentir a água a relaxar-me os músculos, cada jacto que atingia a minha pele era um pedacinho de céu. Comecei a amolecer cada vez mais quando pensei no Gonçalo ali comigo naquela banheira, esse pensamento tinha algo de arrepiante, mas no bom sentido. Podia imaginá-lo a dar-me beijos pelo meu ombro e pelo meu pescoço enquanto me agarrava a cintura. O meu baixo ventre começou a arder de repente e conseguia sentir as minhas pernas a fraquejar. Abri os olhos e fechei imediatamente a torneira.
       C.: Merda!
   Esforcei a minha mente para esquecer o que se tinha passado e decidi acabar o meu banho. Já com a minha higiene feita e com o pijama vestido, arrastei-me para a cama com o meu portátil debaixo do braço. Assim que me instalei debaixo dos lençóis com o portátil no colo, decidi ligar a televisão, talvez não me sentisse tão sozinha. Fui ao meu facebook mas não tinha nada demais, quando vi o link do Gonçalo cliquei lá e abriu o seu perfil. Sorri assim que vi a sua foto de perfil, ele era muito bonito. Era difícil não reparar que por todo o seu mural existiam variadas mensagens  de apoio e de melhoras, muitas delas de pessoas que nunca vi, motivo pelo qual me fazia questionar se o Gonçalo as conhecia também. Um som ruídoso invadiu o meu quarto muito de repente, o que me fez agitar. Alguém me ligava. O meu estômago embrulhou-se e peguei no telemóvel para atender.
       C.: Estou?
       M.C.: Carolina? Está tudo bem? - sentia-se a preocupação na sua voz à distância.
       C.: Mãe?
       M.C.: Já estás em casa?
       C.: Oh, desculpa mãe, esqueci-me de te ligar, mas já estou em casa a algum tempo. Está tudo bem.
       M.C.: Deixaste-me preocupada!
   Revirei os olhos.
       C.: Estou bem mãe.
   O facto é que ela estava sempre preocupada. Era a autêntica mãe galinha, era adorável, por vezes.
       M.C.: Bem, fico mais descansada. Vê se vais dormir cedo.
       C.: Já ia mãe. - menti.
       M.C.: Tem uma boa noite então, filhota. Qualquer coisa liga-me!
       C.: Sim, tu também!
       M.C.: Adoro-te muito.
       C.: Também te adoro muito mãe.
   Mal acabei de o dizer a chamada foi desligada e pousei o telemóvel ao meu lado em cima dos lençóis mas já com os olhos colados ao computador novamente. Passados alguns minutos ouvi o mesmo som ruidoso, bufei mas deixei escapar um sorriso.
       C.: Mãe, espero mesmo que seja uma emergência!
       G.: Hmm... Não sou a tua mãe, mas é uma emergência.
   A voz dele, à tanto tempo que não a ouvia, concentrei-me para controlar o meu  notável nervosismo.
       C.: És tu Gonçalo, desculpa! - pude ouvir um sorriso a formar-se no outro lado da linha. 
       G.: Tudo bem, não te...
       C.: Céus, está tudo bem?! - cortei-o - Disseste que era uma emergência!
       G.: Hmm... Sim Carolina é, mas tem calma.
       C.: Que aconteceu? É preciso ir aí?
       G.: Precisava mesmo, é que estou a morrer... - silenciou-se - de saudades tuas.
   Engoli em seco mas continuava a sentir o coração na boca.
       C.: Oh... Assustaste-me a sério, Gonçalo. - repreendi-o.
       G.: É o melhor que consegues dizer? Só pensava que o gostarias de saber. -gargalhou.
       C.: Oh! Também tenho saudades tuas. - admiti retribuindo com um sorriso.
       G.: Amanhã passa, certo?
       C.: Sim, claro!
       G.: Não vais dormir?
       C.: Sim, estou muito cansada.
       G.: De que estás à espera?
   Que venhas para cá dormir comigo!
       C.: Estava a ver só umas coisas, já vou.
       G.: Amanhã quero-te cedo em minha casa.
       C.: Nunca me atrasei.
       G.: Dorme bem Carolina, adoro-te.
       C.: Também te adoro - corei.
   Ficamos em silêncio uns 4 segundos e de seguida ele desligou a chamada. O sorriso não me abandonou os lábios mesmo quando arrumava o portátil. Enfiei-me na cama, por baixo dos lençóis ainda quentes, tinha tudo para dormir bem esta noite. E assim, sonhei com ele, de novo.


   Os raios de sol que entravam pela janela do meu quarto queimavam-me o rosto. Fui obrigada a acordar, mas fiz-lo lentamente, piscando os olhos variadas vezes para me habituar à claridade. Mais um dia de céu limpo, só isso me punha um sorriso na cara, isso e saber que iria estar com ele. Levantei-me da cama num salto e vesti a roupa que havia preparado ontem. Dirigi-me à casa de banho e comecei por lavar os dentes, apliquei no rosto uma maquiagem leve e finalmente arranjei alguns dos muito caracóis que se encontravam despenteados no topo da minha cabeça. Sorri para o espelho e mandei um beijo a mim mesma, corri para a cama e saltei para cima dela agarrando o meu telemóvel. 09h00, ainda é cedo. Decidi mandar uma mensagem ao Gonçalo, não estivesse ele ainda a dormir.
       *Já estou pronta, posso ir?*
   Segundos depois recebo a minha resposta.
       *Só não entendo porquê que ainda não estás aqui.*
   Corei. Rapidamente agarrei na minha mala, peguei nas chaves e fiz-me ao caminho. Após 15 minutos cheguei à sua porta de entrada, senti-me ansiosa mal toquei à campainha. O Gonçalo apareceu por detrás da porta, mantinha o seu sorriso caloroso o que me distraía das malditas ligaduras na sua cabeça. Retribui-lhe o sorriso e ele afastou-se para me deixar entrar.
       G.: Estás linda hoje.
   O comentário dele desvaneceu-se no ar quando pude reparar que ambas as suas mãos seguravam muletas que o faziam equilibrar-se. Ele ficou meio embaraçado ao aperceber-se e levou uma mão a coçar a cabeça o que fez com que a muleta ficasse apenas presa pelo seu braço.
       G.: É só por algum tempo.

Sem comentários:

Enviar um comentário