Enquanto o Gonçalo tomava posse dos meus lábios eu apenas me derretia nos seus braços, com uma vontade incontrolável de chegá-lo mais perto sem saber como. As nossas respirações fundiram-se e mantinham o mesmo ritmo rápido e desesperado, não sei por quanto tempo nos beijámos mas não era uma sensação que eu quisesse descartar, não agora. As minhas mãos viajavam pelos seus ombros largos e musculados sem saberem o que haviam de fazer, ao contrário do toque dele - experiente e confiante, que fazia a minha pele arder e consequentemente as minhas costas e coxas queimavam dentro de água, além do meu baixo ventre. As nossas línguas ainda se encontravam juntas numa luta desesperada por posse e eu só desejava que quando abrisse os olhos não acordasse na minha cama. Os movimentos do Gonçalo tornaram-se mais brandos e lentamente a boca dele separou-se da minha trincando-me, por último, o meu lábio inferior. Encostou a sua testa à minha e abri lentamente os olhos, ele já me olhava. Tinha milhões de coisas a passarem-me na cabeça, o que significava tudo isto? Ele precisava de mim? Só agora?
- Estás a pensar demais - disse ele, num sussurro.
Dei um estalo a mim mesma mentalmente, esquecendo-me que aos olhos dele eu era transparente, tal e qual água.
- Estás a fazê-lo de novo - repetiu-se. - Acalma-te.
Acalmo-me?! Desculpa se não me consigo conter quando estamos a partilhar uma experiência íntima onde estou praticamente toda sobre ti, separados apenas por duas camadas de tecido mas que ainda assim sinto algo contra mim que não deveria sentir, visto que até agora somos amigos! Suspirei. A Galdéria dera-me um high-five.
- Gonçalo... - comecei eu.
- Estás bem? - Perguntou, cortando-me.
- Sim... Quer dizer, acho.
- Gostas? - Começou a beijar-me entre o pescoço e o meu ombro.
Apenas acenei com a cabeça.
- Deixas?
- Hun-hun - afirmei, fosse lá o que fosse que deveria deixar.
Continuou a beijar-me a pele molhada puxando-me mais contra ele, encurralando-me contra a uma pedra que dava saída do rio. As mãos dele pararam-me na anca fazendo círculos com os polegares no meu ventre, torturando-me e levando-me à loucura, rapidamente a minha pélvis lançou-se para a frente à procura de mais contacto. Ele emitiu um grunhido do fundo da garganta quando o senti de novo, na minha virilha e na minha coxa esquerda. Tornámos-nos desesperados novamente, sentia falta de ar e de fricção. A minha anca avançou pela segunda vez contra ele quando lhe senti a língua a deslizar pela minha clavícula exposta. Desta vez ele pagou-me com a mesma moeda e a sua erecção atingiu-me no meio das coxas, fazendo-me soltar um gemido. Não sei o que tudo isto fazia de mim, render-me desta maneira a um rapaz ao qual me apercebi estar loucamente apaixonada. Estas sensações desconhecidas preenchiam-me o corpo, tudo por causa dele. Segurava-me firmemente na anca com ambas as mãos mas a certo ponto senti a sua mão esquerda viajar pelas minhas costelas acima e parar no lado exterior do meu seio, descrevendo círculos na pele inexplorada. Círculos, gemi de novo. Abafou-me o som com a sua boca e rapidamente senti-lhe o sabor da sua língua na minha. Sem pensar agarrei-lhe o cabelo molhado que pingava a minha cara e transformámos os nossos movimentos constantes e ritmados. A pressão que ele exercia em mim era maravilhosa, podia sentir faíscas no meu clítoris sempre que se encontrava com o membro do Gonçalo. Era tudo demais! A certo ponto começou a beijar-me bruscamente, os círculos começaram a ser desenhados mais depressa e eu achei que não ia aguentar.
- Olha para mim, Carolina - ordenou ele, ainda com a boca na minha.
Os meus olhos encontraram-se com os dele mal os abri. Os olhos cor de avelã que tanto adorava estavam agora escuros, com as pupilas dilatadas. Não sei porquê mas o facto de olhá-lo enquanto retirávamos prazer um do outro deixava-me mais sensível e activa. A mão que se encontrava no meu seio mexeu-se e pôs-se por baixo do bikini agarrando-me o mamilo com o dedo indicador e o polegar, ofeguei. Senti que a descarga de todas aquelas sensações ia chegar brevemente e assim foi, tudo de uma vez. Atingi o clímax contorcendo-me nos braços dele, um gemido saiu-me dos lábios sem o poder agarrar e espasmos trespassaram a minha intimidade.
- Carolina... - sussurrou ele seguido por um grunhido.
O membro dele começou a contrair-se logo a seguir a mim e ele derreteu-se sobre o meu corpo. Pousou a sua cabeça no meu ombro e ambos lutávamos agora para normalizar a nossa respiração.
Ainda não tinha caído na realidade do que acabara de fazer. Acabara de ter o meu primeiro orgasmo, a minha primeira experiência íntima com o rapaz que eu amava e nem sequer tínhamos uma relação, éramos amigos até hoje pelo menos. O que é que isso significava sequer? Imaginava fazê-lo na minha lua de mel, num país tropical numa cabana junto à praia com vista para o mar junto do homem que eu tinha a certeza que me desejava e não me ia deixar. O que eu acabara de experimentar era o oposto total a isso.
Não devia de me preocupar, certo? O Gonçalo ainda estava desligado e eu vagueava pelos meus pensamentos. Só espero não me arrepender disto... Afinal de contas, quais são as certezas que eu tenho que ele realmente se preocupa comigo? Ou que sequer gosta de mim? Apesar disso acho difícil levar as palavras dele a sério e ainda vivo com o que ele me disse mal acordou do coma - Eu amo-te. Tenho a certeza que ele apenas o disse por estar confuso e muito provavelmente nem sequer estava a pensar em mim, também não vou ser eu a confrontá-lo com o assunto, tenho medo da resposta.
Senti a turbulência da água quando o Gonçalo se ajeitou por fim, largou o meu corpo e sorriu-me, constrangimento trespassava pela cara de ambos. Era suposto dizer alguma coisa? Estava à espera que fosse ele a falar, afinal não devia ser a primeira vez que lidava com uma situação destas. Senti uma picada no coração só de pensar no assunto e fiz uma careta.
- Outra vez a pensar demasiado - disse ele.
Estava virado de costas para mim enquanto subia a pedra com dificuldade para sair da água, não conseguia ver-lhe a cara para perceber o que lhe ia na alma. Suspirei como resposta e rolei os olhos, movendo-me atrás dele para sair do rio também. Ele pegou nas toalhas que trouxera que se encontravam no chão e pôs uma à minha volta depois de se tapar com a outra, progressos? Seguia todos os movimentos dele com os olhos, tentado analisar toda a situação, ele não parecia nada ansioso, nem metade do que eu estava. Aliás, parecia querer evitar-me, comecei a ficar frustrada, ele reparou.
- Está tudo bem?
- Não devia? - Perguntei bruscamente.
- Pareces stressada.
A sério que ele disse isto? Boa, génio! - Impressão tua - virei costas e sentei-me no pequeno colchão de esponja que ele tinha posto para nós almoçarmos, dirigi o meu olhar para a água. Ele pareceu ganhar coragem e sentou-se no colchão de esponja ao lado do meu, reparei pela minha visão periférica que ele abrira a boca umas duas vezes mas sem dizer nada, realmente era bom que ele tivesse algo de jeito para falar.
- Obrigado - disse ele, num tom normal.
Obrigado?! A Galdéria Embeiçada fez-lhe o gesto do dedo do meio da mão e virou-lhe costas. A mim apetecia-me apenas insultá-lo. - De quê?
- Tu sabes - tom normal de novo.
Decidi não responder mais, de certeza que estava a testar o meu humor. De repente o telemóvel dele tocou, o Gonçalo girou o tronco para conseguir chegá-lo sem ter que se levantar mas deu um grunhido de dor. Karma. Mal o ecrã do dispositivo se ligou ele sorriu.
- Hoje vai haver festa em casa de um amigo do Bernardo, queres vir?
- Acho que vou deixar passar - não estava mesmo com vontade para festas.
- Anda lá, Carolina. Vais gostar - estava mesmo a tentar-me convencer.
- Tenho que ir ver o meu tio - era mentira, mas sabia que ele não ia insistir no assunto.
- Oh, ok - disse ele, um pouco triste, não sei se pelo meu tio ou por eu não ir, ou pelos dois - se mudares de ideias mandas-me mensagem?
- Sim, claro.
Mal cheguei a casa tomei um banho e enquanto o fazia não conseguia parar de pensar no que se tinha passado. Será que vai ficar estranho daqui para a frente? Ele agiu bastante normal... Depois de todos estes dias pensava que isso era impossível de acontecer. Hunf, doía-me a cabeça. Depois do banho e de vestir o pijama sentei-me na cama com o portátil no colo, olhei para o meu telemóvel na minha mesinha cabeceira e perguntei-me se teria alguma mensagem dele acerca do dia de hoje, para além do Obrigado que ele me dera. Esforcei-me para resistir e concentrar-me naquilo que fazia no computador, mas quem eu queria enganar? Peguei na porcaria do engenho manipulador e acendi o ecrã. Sem mensagens, que surpresa. Considerando que já eram nove e meia da noite era provável que ele já tivesse na companhia do Bernardo e de todas as outras pessoas que fossem àquela festa, não sei se me sentia confortável com isso mas eu não era ninguém para me preocupar. Aliás, não imagino o Gonçalo de muletas numa festa, talvez esta seja calma. Ou queria eu assim pensar.
[Gonçalo]
Já era meia noite quando vi pela última vez as horas no telemóvel, isso foi quê? À vinte minutos? Meia hora? Ela não me tinha mandado mensagem, quer dizer, eu agradeci-lhe pelo menos o dia de hoje e quando a deixei em casa ela nem um abraço me deu. Não significou nada para ela? Olha quem está a pensar demasiado, rolei os olhos e dei um trago da bebida que tinha na mão. O Bernardo estava ao meu lado mas tinha companhia, os restantes amigos com quem eu costumava sair andavam pelo resto da casa e eu não podia ir aventurar-me visto que estou dependente das minhas muletas, se calhar não devia ter vindo. Que se lixe! Acabei a bebida de penalti e levantei-me conforme podia, passando a mancar pela multidão, não ia ser eu a ficar a perder esta noite. Fui encher mais um copo e quando me ia virar para voltar ao meu sítio eis que a vi à entrada da divisão.
- Olá - cumprimentou-me ela.
- Que estás aqui a fazer?
- O mesmo que tu - ela sorriu-me.
- Vai-te embora, Jéssica - disse com desdém.
- Ora Gonçalo, pensava que eram águas passadas.
- Para mim são, não foi óbvio? - Elevei o tom de voz e ela apenas riu-se.
- Vejo-te por aí - piscou-me o olho e saiu do meu campo de visão.
Não podia sequer chegar-me à beira da Jéssica esta noite, não podia deitar tudo a perder com a Carolina, especialmente por ela não saber da sua existência. Só por causa de toda esta situação bebi de novo o copo todo, fui buscar mais um.
[Carolina]
Andava agora às voltas na cama, era impossível estar bem. O meu ecrã acendeu-se e rapidamente peguei nele, era o Gonçalo.
*Isto está uma seca, não deixo de pensar em ti.*
O meu coração disparou e senti um pequeno sorriso a formar-se nos meus lábios. Rapidamente mudei de atitude, depois do que ele fez hoje não merecia que eu fosse simpática ou compreensiva. A Galdéria concordou comigo e cruzou os braços no peito. Ainda assim decidi responder.
*Porque não te vais embora então?*
Esperei algum tempo e recebi resposta quase de seguida.
*Se for para tua casa.*
*Não podes.*
*Então qual é a piada de ir embora? Quero estar contigo.*
O meu coração por momentos esqueceu-se de bater. Esta nova atitude do Gonçalo estava a deixar-me confusa, estaria ele bêbedo?
*Anda, mas só um bocado e não venhas a conduzir.*
*Dentro de meia hora estou aí.*
Apressei-me rapidamente para dentro da casa de banho, escovei novamente os dentes e vesti uns calções e um top simples em vez do pijama, ele vinha cá a casa e independentemente de tudo eu queria estar bem. Preparei-nos também um pequeno lanche, queria que ele comesse pois de certeza que esteve a beber. Ao pensar no assunto olhei para a minha cicatriz no pulso, respirei fundo então e concentrei-me em fazer algumas torradas. Tentava fazer as coisas à velocidade normal visto que ele ainda ia demorar mas quando acabei de fazer tudo tinham-se passado quarenta minutos, era agora uma da manhã e um quarto sensivelmente e nada de Gonçalo. Onde estaria ele? Será que aconteceu alguma coisa? O meu telemóvel tocou, fui a correr para pegar nele mas fiquei desiludida por ver o nome da minha mãe em vez do Gonçalo. Já era tarde para receber uma chamada da minha mãe.
- Mãe?
- Carolina!- Gritou no meio de soluços, oh não!
- Mãe?! O que se passou? - Perguntei aflita, quase a berrar. - Mãe?!
- É o Carlos, por favor anda ter ao hospital! - Continuou a chorar e eu desliguei.
Calcei umas sapatilhas de corrida à pressa e só tive tempo de pegar num casaco e nas chaves de casa antes de sair disparada porta fora. Sem dar por isso as lágrimas já rolavam pelas minhas bochechas, encostei o telemóvel à orelha para tentar ligar ao Gonçalo, mas ao fim da quinta chamada ele não atendia. Vá lá! Comecei a chorar ainda mais, não via o meu tio à algum tempo, ando com a merda da cabeça ocupada! Continuei a correr e só parei quando cheguei à praça de táxis e estava lá um carro estacionado de serviço, bati na janela e o homem acordou assustado, mal viu o meu estado abriu-me a porta.
- Para o hospital, por favor! O mais rápido que conseguir!
- A menina está bem? - Perguntou preocupado visto que já soluçava sem querer.
- Não sei - respondi sinceramente. Isto não pode mesmo estar a acontecer.
[Gonçalo]
Já me sentia bastante tocado e definitivamente muito mais alegre, mas não era um impedimento para beber, queria divertir-me apenas e ainda não estava no ponto. Estava o meu grupo todo reunido no chão da sala a jogar ao verdade e consequência, era um jogo estúpido como o caralho, mas tem piada quando se está bêbedo. A garrafa girou e apontou para mim.
- Verdade ou consequência? - perguntou-me a Íris, também ela bêbeda.
- Consequência - tinha muito mais piada.
- Muito bem, - começou ela a pensar - vais ter que ligar para uma gaja qualquer na tua lista de contactos e dizer 'Quero ir-te ao cu, em minha casa às duas, espero por ti.' - Toda a gente se começou a rir, até eu.
Meti a mão no bolso de trás para tirar o telemóvel e fiquei confuso quando não o encontrei. Vi o outro bolso mas nada, nem nos da frente.
- O que se passa? - Perguntou a Íris.
- Não sei do meu telemóvel.
Levantei-me ágilmente como se estivesse perfeitamente saudável, o álcool tirava-me as dores mas sei que amanhã me ia arrepender desta brincadeira. Comecei a procurar no sofá mas também não estava lá, fui até à cozinha que era um dos sítios que tinha estado e vi-o no balcão, ao lado da Jéssica. Fodasse!
- Ei! - Exclamei eu e agarrei de seguida o aparelho.
- Olá, outra vez - ela sorriu - encontrei-o no chão, não sabia de quem era.
- Como queiras.
- Boa sorte com isso - gargalhou.
Nem sequer fiquei para ouvir mais, mal virei costas caminhei de novo para a sala. Estavam todos à minha espera, ri-me e mostrei o telemóvel. Acendi o ecrã e concentrei-me para o ver, nada de mensagens dela, nem uma única, nem uma mensagem de voz. A minha paciência esgotou nesse momento e fiquei com uma neura do caralho por ser ignorado depois da surpresa que fiz para ela! Nenhuma gaja me tinha recusado nunca, bastou mostrar-me mais vulnerável e sou logo fodido! Decidi fazer o que a Íris me tinha proposto, afinal a noite ainda agora tinha começado!
***
Nota:
Adorava que dissessem alguma coisa, só para eu ter noção se estão a gostar do rumo que está a levar. As vossas críticas são a minha evolução :) Obrigada por seguirem!
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