20110721

Gonçalo is speaking # 3

  Eram 14h20 da tarde quando acordei. Encontrava-me no chão do quarto do Bernardo em cima do tapete com uma dor de cabeça descomunal, devo ter caído do sofá e nem dei por isso. ‘Não voltarei a beber’, jurei para mim mesmo. Nesse instante procurei pelo telemóvel - duas mensagens da minha mãe, preocupada como sempre claro, uma de um número desconhecido e mais duas da Carolina. Apressei-me a ler as dela primeiro, já não falávamos à três dias, sem contar com aquela mensagem que ela me mandou no facebook, mas não lhe tinha respondido. A primeira dizia “não te esqueças do nosso almoço amanhã” e a segunda “GONÇALO?!”. Na minha cabeça rapidamente fez-se luz, como é que pude deixar isto acontecer? Fui às chamadas não atendidas e tinha oito da Carolina. Rapidamente premi a tecla verde.
      ‘C: TOU!
    G: Carolina! Desculpaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa…! Ontem à noite fui sair com o Bernardo e hoje devo ter adormecido pelo pouco que dormi.
       C: Obrigado Gonçalo, a sério.
       G: Eu recompenso-te amanhã.
       C: Não dá, vou para casa do meu tio, lembras-te?
       G: E não posso ir contigo?
       C: Conhecer o meu tio? Tens a certeza?
       G: Sim, claro...
       C: Ok, mas não me deixes pendurada outra vez!
       G: Não te preocupes. Estás chateada comigo?
       C: Não tonto, é impossível…
       G: Ainda bem, sabes que odeio isso.
       C: Sei…
       G: Bem, até amanhã então. Beijinho!
       C: Beijo.’
   A conversa não podia ter corrido melhor, ela nem sequer estava chateada! Enquanto suspirava de alívio o Bernardo acordou. Espreitou para fora da cama e, quando os seus olhos encontraram o meu corpo, riu-se e disse “grande noite para ti, sardão!”. Não lhe respondi, estava demasiado cansado para isso. Antes de me arrastar de novo para o sofá fui ao meu telemóvel mais uma vez e lembrei-me do nr desconhecido, abri a mensagem: “Quando nos vemos de novo? / jess”. Mal vi pousei o telemóvel no chão, ao lado do sofá e deixei-me adormecer de novo.



   Quando acordei de novo só tinha passado uma hora, obriguei o meu corpo a levantar e fui tomar banho, já me sentia à vontade em casa do Bernardo. Entrei no duche e tentei lembrar-me de tudo o que fiz na noite passada enquanto a água quente molhava o meu corpo. De tudo o que eu podia ter feito envolver-me com uma rapariga não estava nos meus planos, sobretudo bêbado. A Carolina jamais podia sonhar com isto, ia magoá-la. Devo ser mesmo estúpido. Cheguei ao quarto o Bernardo ainda dormia, abanei-o e disse-lhe que me ia embora, já era tarde. A minha mãe provavelmente já estava mais que preocupada então quando me pus a caminho liguei-lhe a reconfortá-la. Não fiz nada durante o resto da tarde, sentia-me péssimo não só fisicamente como mentalmente. Mandei uma mensagem à Carolina depois da hora do jantar.
       *Amanhã já vou poder ver-te. Beijinho*
   Arrependido? Talvez, só queria garantir que ela ainda estava lá para mim... Mas não aguentei a espera pela mensagem dela e adormeci.
   No dia seguinte acordei cedo, visto o que tinha dormido, ao menos não vou ficar com os sonos trocados. Depois de me arranjar dirigi-me logo a casa dela que ficava a uns 15 minutos da minha. Mais um dia de sol, só isso já me punha de bom humor. Quando lá cheguei ela ficou surpresa, não estava a contar que eu fosse tão cedo, percebi que esse pequeno gesto deixou-a contente.
     G.:'Olá miúda!'
     C.:'Olá Gonçalo, entra! Não estava à espera que viesses tão cedo, vais ter de esperar que me arranje.'
     G.:'Como se isso fosse um problema.'
   Ela sorriu e mesmo não estando "arranjada" ficou linda a meus olhos. Tinha os caracóis amarrados num tótó fazendo parecer que tinha uma colmeia no cimo da cabeça, apenas um caía-lhe pela cara. Cumprimentei-a e pus-lhe o caracol atrás da orelha, reparei logo que as suas bochechas ficaram vermelhas, para esconder virou-se de costas e subiu até meio das escadas antes de olhar para mim.
     C.:'Hmm, podes ficar aí em baixo na sala enquanto me arranjo, não me demoro.'
   Devolvi-lhe o sorriso e ela desapareceu no piso de cima. Fiquei à espera dela no sofá, liguei a TV e deixei estar nesse canal. Passados uns vinte minutos ela desceu finalmente, estava já com o cabelo solto e todos os caracóis moldavam-se em volta da sua cara, vestia um top simples e uns calções não muito curtos, calçou umas vans vermelhas e estávamos prontos para ir.
  Apanhamos a camioneta e, durante a viagem, não foram trocadas palavras mas ao invés disso, foram trocados bastantes sorrisos e olhares. A Carolina ia a ouvir música contemplando a paisagem para além da janela, algo parecia preocupá-la mas ainda não tinha descoberto a causa ao certo. Baixei a cabeça e, quando olhei para as mãos dela, algo me chamou a atenção. Estava a usar uma pulseira prateada na qual estava presa uma estrela, esta não muito grande, sabia reconhecer aquela pulseira em qualquer lado pois fui eu que lha dei nos seus anos. Ela já a queria a algum tempo e eu sabia que a iria fazer feliz, até agora nunca a vi sem ela. A pulseira tapava e escondia algo mais superficial, no pulso de Carolina existia uma cicatriz com cerca de 4cm de comprimento, desde que a conheço que ela nunca fala dela e evita sempre ter essa conversa. Nunca tive interesse em saber o porquê, talvez um dia ela me conte.

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