20110817

Gonçalo is speaking # 5


   A partir desse dia começámos a falar por mensagens, descobri que o nome dela era Jéssica e que tinha 18 anos como eu. Não vivia muito longe e o resto não me interessei em saber também, apesar de gostar de falar com ela, mas não passava disso. Parecia-me uma rapariga simpática e divertida, talvez até demais, naquela festa não me mostrou controlo nenhum e ao que parece ela insistia em não pôr o nosso "envolvimento" para trás das costas. Apesar de lhe ter dito que estava sempre disponível arranjava desculpas para não ir ter com ela, não era difícil de perceber o que ela queria mas não sei se estava disposto a dar-lhe, talvez... se me apetecesse eventualmente. Queria-me afastar mas sabia que ela iria ser fácil de ter, de qualquer das maneiras era bonita, não a queria desperdiçar, mas quando pensava nela vinha-me sempre a Carolina à cabeça, ela não podia saber de maneira nenhuma sobre a existência de Jéssica, nem vice-versa! Algo me dizia que ia arriscar na mesma, não sei se depois vou querer lidar com as consequências disso.
   Já estava de férias à cerca de um mês e gostava de começar a fazer coisas mais divertidas do que estar sempre enfiado em casa, tinha que ligar ao Bernardo ou à Carolina.
     B.:'Hoje não posso mano, tenho que ir cedo para o treino e não compensa.'
     G.:'Hmm, tudo bem, fica para uma próxima!'
   Imediatamente selecionei o número da Carolina e premi a tecla verde, atendeu ao terceiro toque.
     C.:'Olá Gonçalo, tudo bem?'
     G.:'Sim, claro miúda e contigo?'
     C.:'Também claro.'
     G.:'Tens alguma coisa para fazer hoje? Estava a pensar em irmos dar uma volta.'
     C.:'Por acaso hoje não dá, vou ter que ficar em casa a ajudar a minha mãe, pode ficar para outro dia?'
     G.:'Hmm.. Sim claro.'
     C.:'Desculpa, depois compenso-te.'
     G.:'Depois falámos então... Beijinho.'
     C.:'Beijinho.'
   Raios, o tédio era infernal e não aguentava mais estar dentro de minha casa, tive uma ideia, só esperava que não acontecesse nada de mal após a minha decisão.
     *Hoje à tarde podes estar comigo?* - a enviar a Jéssica.
   Passado nem um minuto ela respondeu-me, é claro que ela queria estar comigo. Combinámos uma hora e eu fui-me arranjar, quando saí de casa eram 14h30 certas, tinha mais que tempo. Quando entrei no autocarro fiquei nostálgico ao relembrar o dia que tinha passado com a Carolina em casa do seu tio. O que é que ela me andava a fazer? Olhei para o telemóvel que vibrou e desejei imediatamente que fosse ela, mal abri a mensagem fiquei desiludido ao ler 'Jéssica' que me estava a avisar que tinha acabado de chegar. Não me posso pôr com estas merdas agora.
   Quando cheguei comecei a procurá-la e rapidamente a encontrei, parecia-me ainda mais bonita que na outra noite e isso era algo convidativo. Vestia um top branco que lhe caía pelo corpo até aos seus quadris, umas calças justas que lhe moldavam o rabo e umas sapatilhas verdes. Tinha o cabelo liso, enorme e castanho, mexia nele pelo menos três vezes a cada dois minutos. Era morena, bastante, mas confessara-me que já tinha feito praia e tinha olhos claros - verdes - tal e qual como me tinha parecido. Ao chegar perto dela dei-lhe um toque de leve nas costas e como ela já estava à espera que fosse eu, sorriu enquanto rodava a cabeça sob os seus ombros para me olhar. Quando ela me olhava por entre aquelas pestanas...
     G.:'Olá' - retribuí o sorriso.
     J.:'Olá, Gonçalo!'
   O embaraço de primeiro encontro ainda estava muito presente, então apenas falávamos de coisas à sorte, o que pelo menos me distraía. Apesar disso notava-se perfeitamente que ela queria mais do que apenas falar comigo, não me deixei levar pela situação, afinal de contas só vim porque não tinha nada para fazer, a última coisa que quero é deixar uma rapariga com um desgosto só porque não procuro uma relação. Muito menos com Jéssica. Ela fazia-me lembrar um autêntico porta-chaves, sem ofender, mas ela era bonita como um acessório desses, servia apenas para levar à rua e ser mostrada, os outros invejavam. Era assim que me sentia em relação a ela, nada mais que isso, uma diversão para quando eu me lembrasse dela. E não é assim que ela quer ser tratada? Quer dizer... As investidas dela eram óbvias, mas tornava-se cansativo lidar com isso, decidi então que me ia embora, afinal de contas já era final de tarde. Para não ser tão óbvio acompanhei-a à paragem onde ela iria apanhar a camioneta. Pelo olhar dela podia jurar que estava à espera que a beijasse, tinha que ser tão atraente? Já me olhava por entre pestanas outra vez, merda! Trouxe-a até a mim pela cintura e segurei-lhe a cara com ambas as mãos, comecei o beijo e tão depressa começou como acabou, felicidade a minha que a camioneta dela tinha chegado.
     G.:'Adeus' - sorri.
   Virei costas e fiz-me a caminho para a paragem de autocarros. O telemóvel começou a vibrar já sabia que era ela, não lhe chegava a tarde inteira? Atendi um pouco rude.
     G.:'Já estás com saudades minhas??'
     C.:'Hmm.. por acaso.'
   Fiquei nervoso, era a Carolina.

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